Como é que os gases farmacêuticos podem ser controlados?
Os gases farmacêuticos utilizados na produção de um medicamento ou princípio ativo são considerados críticos para a Indústria farmacêutica. As suas qualidades devem ser garantidas e controladas, desde a fonte de fornecimento até aos pontos de utilização. Que controlos implementar para garantir que a sua qualidade inicial seja mantida?
Principais gases utilizados
Os gases mais frequentemente controlados na indústria farmacêutica são o azoto (N2), o ar comprimido, o oxigénio (O2) e o dióxido de carbono (CO2).
Os gases para uso farmacêutico ou médico são baseados:
em textos e regulamentações exigentes como a farmacopeia europeia (ou mesmo japonesa ou norte-americana);
na norma ISO 8573 para o ar comprimido e as suas diferentes classes de atmosferas controladas provenientes das Boas Práticas de Fabrico (BPF).
Nestes mesmos textos, são também especificados os métodos analíticos a serem utilizados.
Para efeito de controlo de qualidade, os gases farmacêuticos devem cumprir as especificações físicas e químicas, contidas nas monografias. Por exemplo, para a farmacopeia europeia:
- Azoto (N2) n.º 1247
- Azoto empobrecido em oxigénio n.º 1685
- Oxigénio (O2) n.º 0417
- Dióxido de carbono (CO2) n.º 0375
Estas monografias possuem uma descrição pormenorizada dos métodos de análise a serem utilizados nos controlos.
Exemplo para o azoto e o controlo da produção:
N2 | Especificação | Técnica de análise |
---|---|---|
Pureza | ≥ 99.5% v/v | Cromatografia em fase gasosa GPC |
O2 | ≤ 50 ppm v/v | Célula eletroquímica |
CO | ≤ 5 ppm v/v | Analisador por infravermelhos |
CO2 | ≤300 ppm v/v | Analisador por infravermelhos |
H2O | ≤ 67 ppm v/v | Higrómetro eletrolítico |
Podem ser realizadas análises bacteriológicas ou particulares em conformidade com a norma ISO 14644-1 ou com outras especificações e condições exigidas pelo cliente.
As três fases-chave do controlo dos gases farmacêuticos
Os gases farmacêuticos provêm principalmente de fornecedores de gás. Quer sejam entregues sob a forma líquida e armazenados em reservatórios criogénicos ou sob a forma gasosa garrafas ou quadros de garrafas, a sua qualidade deve ser controlada aquando da sua receção e depois em vários pontos da(s) rede(s) de distribuição.
Quaisquer intervenções nestas redes (nova instalação, alteração de um ponto, ramificação, etc.) requerem novos controlos de qualidade dos gases nos pontos de utilização em causa antes do comissionamento.
Existem assim 3 fases-chave:
1. Qualificação inicial na instalação da fonte de fornecimento e da rede de distribuição antes do comissionamento
Se o gás fornecido cumprir todos os requisitos, é essencial que a instalação de distribuição nos pontos de utilização não afete a qualidade do gás.
Para garantir isto, uma qualificação de instalação pode ser realizada de acordo com um protocolo normalizado:
- A - Qualificação de Conceção (DQ - Design Qualification): verificação documentada da conformidade da conceção dos sistemas e equipamentos de gás com os requisitos específicos da indústria farmacêutica e as recomendações dos fabricantes.
- B - Qualificação da Instalação (IQ - Installation Qualification): verificação documentada de que os sistemas e equipamentos são instalados de acordo com o projeto aprovado.
- C - Qualificação Operacional (OQ - Operational Qualification): verificação documentada da adequada atividade das instalações, sistemas e equipamentos em toda a gama estabelecida e prevista de parâmetros de funcionamento.
- D - Qualificação do Desempenho (PQ - Performance Qualification): verificação documentada de que as instalações, sistemas e equipamentos produzem resultados de acordo com os desempenhos previstos.
2. O controlo dos gases aquando da receção, na altura das entregas, antes da produção
As diferentes farmacopeias, o código sanitário e as Boas Práticas de Fabrico (BPF) exigem que os gases sejam identificados aquando da sua receção e que sejam sujeitos a um certificado de análise por lote.
A identificação aquando da receção é frequentemente fastidiosa e demorada. A Air Liquide propõe uma solução simples e rápida com a sua unidade de identificação de gases, a "Gas Identification Unit" (GIU).
É de notar que cada fabricante pode implementar uma delegação de controlo e obter um certificado de análise por lote do seu fornecedor para cada entrega
3. O controlo nos pontos de utilização
A fim de fornecer provas da integridade dos gases industriais até aos pontos de utilização, a aplicação de uma monitorização regular da rede de distribuição deve ser respeitada.
As instalações farmacêuticas devem definir uma estratégia de controlo com a realização de análises. Os testes e análises podem ser do tipo físico-químico, microbiológico e particular.
Estas medições permitem verificar o desempenho da rede e a ausência de impacto sobre a qualidade dos gases e controlar os riscos de contaminação ao longo do tempo.
As amostragens são realizadas nas instalações industriais e regem-se por meio de um caderno de encargos que enumera os riscos relacionados, a frequência e os métodos de intervenção do técnico autorizado, bem como os tipos de análises/testes a serem realizados de acordo com o gás e os pontos de amostragem.
É necessário realizar análises por amostragem ou diretamente em linha em diferentes pontos da rede desde a fonte até aos pontos mais distantes, considerando também os pontos mais críticos no que diz respeito ao processo.
Os resultados obtidos nas instalações e no laboratório são então compilados num relatório abrangente, validado e assinado que especifica:
- os métodos utilizados,
- os certificados de conformidade,
- os resultados e dados em bruto,
- os certificados de calibração.
Em caso de resultados fora das especificações (OOS - Out Of Specification), são realizadas investigações para identificar as causas e as ações corretivas a serem implementadas. O controlo de qualidade pode registar os dados transmitidos para acompanhar uma tendência com os últimos resultados obtidos.
Em conclusão, após obras ou durante a utilização, as redes de distribuição de gás devem respeitar a conformidade e a integridade das características dos gases ao longo do tempo. Assim, o seu controlo requer um acompanhamento regular e rigoroso.
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